Onde a relação entre a torcida do Grêmio e a BM vai terminar?

Lendo hoje a matéria com o Evandro Godoy Kunrath, atingido no olho por três balas de borracha da Brigada Militar, em episódio ocorrido próximo à Arena do Grêmio antes do jogo contra o Santos pela Copa do Brasil, me pergunto onde isso vai parar.

É assustador perceber que em pouco mais de um mês dois episódios de violência envolvendo a BM aconteceram na Arena e em torno dela. O primeiro na agressão ao Juliano Franczak, o “gaúcho da Geral”. O segundo neste episódio lamentável que pode deixar um torcedor do Grêmio que nunca se envolveu em confusão cego.

Ainda mais assustador é ver que o excesso da BM só é contestado porque no primeiro caso um vídeo feito por um torcedor mostrou que o Juliano foi agredido e arrastado (enquanto caminhava de muletas) sem ter oferecido qualquer resistência. No segundo porque o absurdo foi tamanho que o Evandro corre o risco de perder a visão (hoje pela tarde surgiu um vídeo da confusão). Caso ele tivesse “” escoriações mais leves, cortes ou hematomas a ação da BM (disparando balas de borracha na altura da cabeça dos torcedores em meio a crianças) passaria sem qualquer contestação. Ficaria tudo como sempre: a BM dá a versão dela, a culpa cai na torcida e a opinião pública acredita naquilo que lê e/ou escuta na imprensa. Aliás, quando iniciou a confusão que culminou com a agressão ao Gaúcho eu me encontrava na saída do túnel do vestiário, esperando o time do Grêmio entrar em campo para fotografar. Vários jornalistas estavam ali, e o que eu ouvi de todos foi a mesma coisa: “de novo estes caras fazendo merda”, “mas tem que baixar o pau nesta torcida mesmo”. Ou seja, o cara que vai entrar ao vivo no teu rádio segundos depois, relatando o acontecido, já tem uma opinião formada antes mesmo de averiguar o fato, e passa isso adiante.

A torcida não é santa, é claro. Comete seus erros e deve ser punida por eles. Porém, a culpa não é sempre dela, e é esse o ponto que quero chegar. Assim como estes dois casos acabaram mostrando excessos da Brigada, seja por um vídeo ou pelos ferimentos em um torcedor, quantas outras confusões ocorreram da mesma forma, mas não teve um vídeo gravado ou repercussão na mídia? Não existe um bandido e um mocinho, existem erros dos dois lados. Quando a torcida os comete, fica sem suas faixas, bandeiras, instrumentos durante alguns jogos. E quando a BM erra?

Seja por novas normas técnicas que se aplicariam apenas à Arena (criadas um  mês antes da sua inauguração), seja pela intransigência durante meses acerca da colocação obrigatória de cadeiras na Geral, o Grêmio teve prejuízos enormes ao longo deste ano. Agora, a sensação de insegurança causada por estes episódios de violência está afastando muita gente da Arena, principalmente quem levava crianças aos jogos. A impressão que o torcedor do Grêmio tem é de que tudo que cerca o clube é visado, tanto no que diz respeito a liberação do estádio por motivos de segurança, como no tratamento ao seu torcedor.

Já passou da hora de alguém fazer alguma coisa para esse ranço entre torcida do Grêmio e Brigada Militar terminar, seja o clube, o comando da BM ou o Governo do Estado. A coisa parece estar saindo de controle, piora a cada mês que passa, e eu tenho medo que algo ainda pior do que aconteceu com o Evandro possa ocorrer.

Fica a torcida para que o Evandro se recupere plenamente, mude de idéia, e volte ao estádio com seu filho em um futuro próximo, desta vez em segurança.

Saudações Tricolores,

Richard Ducker